terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Olhares

Hoje voltei a ver-te. Barba grande e grisalha, pegada ao cabelo sujo e revolto, a cercar um rosto tisnado e enrugado, de expressão única e parada. Farrapo velho no corpo pequeno e curvado. Nas mãos, uma garrafa de cerveja. Que voltas deste para te encontrares assim, nesta encruzilhada da vida, à esquina duma qualquer rua?
Lembro-me de ti, sorridente e conversador, tirando do mar o sustento para a mulher e filhos. Um dia, numa coincidência estranha, encontrei-te fechado num lugar impensável. Olhámo-nos. Acenaste a cabeça num cumprimento envergonhado e eu fiquei embasbacada por te ver ali, misturado com aqueles que eu pensava serem de outro lugar que não o teu, terem feito opções que não as tuas. Pobrete, mas alegrete. Pobre, mas regateando com a vida aquilo que era teu por direito do trabalho honesto. Alegre, porque dominavas os teus curtos horizontes. Mal refeita da situação, estendi a minha mão num cumprimento de feliz natal. Há quantos anos? 10, 15? Nunca mais te vi, até hoje.
Gostava de saber em que montanha russa viajaste e em que voltas te perdeste e perdeste os teus.
E continuas à esquina, de cerveja na mão e olhar parado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sem segredos

Li algures que o "5 para a Meia Noite" foi eleito o melhor programa da televisão. Concordo, às vezes.
Já o pior programa foi o "Secret Story 3". Aqui concordo plenamente e sempre.
Nunca tinha seguido de perto um realityshow. Uma vez ou outra, dois ou três diretos e nada mais. Ah! e conhecia a história do Zé Maria. No ano passado deu-me para ali e comecei a ver assiduamente esta Casa dos Segredos 3, que agora tem uma inenarrável sequela apelidada de Desafio Final. Não posso dizer "sem comentários" porque trouxe para aqui o assunto, mas é difícil dizer alguma coisa de jeito sobre este programa etiquetado de entretenimento. Tudo junto, concorrentes, linguagem, situações, missões, discussões e palavrões, dava um tratado de sociologia, de fauna e flora, linguística e psicologia comportamental. Este conjunto de pessoas, supostamente simples e anónimas, encarna toda a complexidade do ser humano. Protegem-se uns aos outros numa dinâmica de jogo e em nome dessa dinâmica denunciam-se ao mínimo deslize , à mínima contrariedade. Todos são frontais, honestos, humildes e solidários. Uns assumem que ali estão por dinheiro, outros não se percebe bem pois afirmam que nem precisam daquilo. Nas frequentes discussões dardejam profundidades filosóficas sobre sofrimentos, sacrifícios, solidariedades e amizades, e na mesma linha se contradizem e acusam. Formam pares amorosos, uns para "dar canal", outros porque descobrem que encontraram a alma gémea. Choram abundantemente com as traições e falsidades, mas não hesitam nas nomeações para as saídas. No fim juram a pés juntos que vão ficar amigos para toda a vida, e quando algum sai, despedem-se como se o visado fosse para o outro mundo.
Como nunca tinha visto qualquer programa destes por inteiro, não fazia a mínima. É uma feira de vaidades e insanidades. É caso para dizer: todos diferentes, mas todos tão iguais!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Faturar a fatura

Hoje a crónica não é minha. Um velho amigo escreveu no FB e eu trouxe para aqui:

Uma dessas novas registadoras que comunica logo com as finanças custa aproximadamente 1500 €.Um pequeno comércio pode facturar num dia aproximadamente 50 €.Logo o dono da loja trabalha mais de 1 mês só para pagar a dita máquina(para cobrir as despesas do que vende).As registadoras antigas já vêm com porta série(porta de comunicação) mas é impossivel (???) serem adaptadas...Por favor esclareçam:O Carnaval de 2013 chega mais cedo que nos outros anos?
Sugestão para ajudarmos o pequeno comércio: Quando não estiver ninguém na loja,dizemos que não queremos factura nem talão.
Além do mais,estas leis vão conseguir algo nunca dantes visto:
- Contrabando Interno !!!
- Assaltos (verdadeiros ou forjados) a carrinhas de distribuição.
Preparem-se, rapazes dos recintos desportivos: chocolates?, pipocas?, amendoins?  - Ora saia a fatura!!!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fará sentido?

Do discurso do Presidente da República dizia-se que era o mais esperado. Ainda estou para perceber o que teria ele de tão iluminado para dizer, depois de ter perdido todas as oportunidades de se chegar à frente e dar uma arrumadela nas canastrices que andam para aí a fazer com a gente. Mas enfim.... Uma das frases ditas pelo ilustre acentuava monocordicamente que "era preciso travar a espiral recessiva". Percebem porque é que eu não percebi? Então ele ainda não deu conta da espiral recessiva? E quem é que promulogou o OE, esse desgraçado rol de facadas nas nossas vidas?
Sempre estou para ver o que vai o PR escrever agora no facebook.

Meio Poema

Quatro anos... Nem me dei conta.
Tantos dias, tantos meses. Tanta coisa.
Lembranças, esquecimentos, partidas, chegadas.
Fervilha a cabeça de palavras que ficaram para trás.
Nem sei se é um poema. É escrita. É a escrita.