segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Este País Não é Para Velhos

Que me perdoem os donos da frase que serve de título a esta fatia mas nunca uma frase foi tão apropiada ao contexto em que vivemos, em que o país está mergulhado. Falta-me a inspiração para a escrita, sobra-me o desencanto, o desespero, a raiva, que não o desânimo.
Descobri este texto no blogue de um senhor ligado à educação e crítico lúcido dos desmandos desta gente que governa sobre números e orçamementos e cujas contas dão em buracos de fazer inveja ao meteorito mais bem intencionado.
Reza o texto do Dr.Paulo Guinote que ser velho no nosso país é uma chatice. Ao que temos lido nos jornais, também no Japão, ou coisa que o valha, também ser velho não é lá grande ideia. Em larga escala, qualquer dia não será boa ideia ser-se velho neste planeta e o melhor será reinventar a história do Jeremy Button. Andamos de trás para a frente em três tempos e as economias mundiais verão sanados os seus problemas de riqueza e ganância. Estamos mal.
Olhemos, então, para o texto:
Os velhos. Os velhos são uma chatice para este governo de jovens liberais com a minha idade ou mais, de permeio com tipos já com currículo de trintões. Isto para não falar nos andropáusicos teóricos da casta que parecem não ter espelhos em causa e sobre os quais vou poupar o sarcasmo, que me correria com extrema facilidade, atendendo a tudo o que se vai ouvindo e sabendo.

Concentremo-nos naqueles que, como um certo idiota, desculpem, imbecil, desculpem de novo, jovem político do PSD que tratou os idosos como sendo uma espécie de peste, insurgindo-se contra o encargo que eles são para o pobre Estado que, assim, fica menos liberto para apoiar os banqueiros não grisalhos na base do Petróleo Olex ou parecido.

Os velhos são chatos porque adoecem, porque usam o SNS, porque gostam de comprar medicamentos comparticipados, porque têm doenças crónicas, porque querem fazer análises ao sangue e ao xixi de 24 horas, porque recebem reforma após 40 anos de trabalho, porque, porque, porque, porque…

E agora há ainda os velhos precoces… aqueles que ainda trabalham e que, aos 55 ou 60 anos, ainda se sentem em condições de receber um salários, que não gostam de os ver cortados só porque o gaspar falhou outra vez as contas estocásticas, e que o ministro Relvas considera instalados e os restantes idiotas alaranjados ou azulados acham que são uns privilegiados porque têm trabalho e não dão lugar aos jovens.

Porque, como se sabe de acordo com a teoria económica do café na esquina ali do Campo Grande, os jovens só poderão sair do desemprego se os velhos desaparecerem dos locais de trabalho e, se possível, sem receberem subsídio de desemprego ou reforma.
Porque, como se sabe, a Economia funciona na base da substituição de trabalhadores nas mesmas funções e não na criação de empregos. Isso são ideias esquerdistas, do tipo-PREC, quiçá rooseveltianas.

Porque, como todos sabemos, em especial os liberais de aviário, os velhos são uma peste, conspiram contra o interesse nacional e devem ser exterminados ou abandonados à sua sorte, a menos que queiram praticar o voluntariado em troca de pão, água e uma enxerga lavada a cada bimestre. A menos que seja um catroga, pois nesse caso deixamo-lo lambuzar-se com um tacho escolhido para compensar o beicinho de não ser gaspar em vez do gaspar. Ou então se for um ulrico ou um salgado e nesse caso espera-se que seja ele a dar-nos(lhes) um tacho para se lambuzarem depois de fazerem tirocínio de secretário de estado rosélino ou ministro de vespa. Ou assessorando, ou consultando ou especializando pelos gabinetes.

Como todos sabemos, os velhos já não são o que eram quando se reformavam aos 65 e morriam logo a seguir, ali de forma estrondosa com a bendita trombose ou o adequado ataque cardíaco fulminante, abençoados que eram. Agora dignam-se viver mais uns anitos, têm esperança de vida, mas o raio é que têm catarro, gota, maleitas daquelas neurológicas e outras ortopédicas, artroses e ateroscleroses. Têm tremeliques e as famílias, mesmo dos proletas, querem cuidados paliativos como se fossem gente rica e pudessem pagar, que isto do Estado Social não é coisa para todos, pois há que pagar os desfalques do Oliveira e Costa e não mugir, ou melhor, há quem munja (o leitinho da teta gorda do Estado em subsídio) e quem muja (porque agora vais despedido e levas meio tostão de mel mal coado).
Portugal está cheio de velhos e este mundo não é para velhos. Este mundo é para jovens relvettes ou para borginhos de proveta, gente empreendedora que saca dinheiros ao Álvaro enquanto janta e que acha que a sociedade está cheia de parasitas, sendo os mais parasitas de todos esses idosos sem vergonha na cara que tanto exigem ao pobre Estado, como se só pensassem no egoísmo que é manter-se vivos.

Porque, como todos sabemos, a população portuguesa está envelhecida.

Não porque a decisão racional das famílias, perante o corte dos rendimentos e apoio à natalidade, seja racionalizar a descendência numa compreensível estratégia neo-maltusiana. Racionalizar só se for nos serviços do Estado.

Não porque o incitamento à emigração pelo pedro & miguel, a dupla sertaneja do momento, leve à redução da população jovem e em idade fértil no país, agravando ainda mais a baixa natalidade.

Claro que o envelhecimento da população é causado, única e exclusivamente, porque o raio dos velhos insistem em viver cada vez mais e em resistirem às doenças que antes – nos bons velhos tempos – os matavam que nem tordos, benzós Deus que Deus nessa altura andava mais atento na ceifa.
E depois fica aquele problema, curioso, digno de meia dúzia de teses bolonhesas de uns filhos d’algo com passeio por universidades amaricanas para verem as salas de leitura e o verdejo dos campus, que é querer, ao mesmo tempo, que as pessoas se reformem mais tarde, para alargar a carreira contributiva, enquanto dão lugar aos mais novos, abdicando do seu vergonhoso privilégio de trabalhar, para combater o desemprego jovem.

A solução para isto passa, claro, por um guião para a juventude saber ser jovem e ir para a ingricultura (a Cristas, coitada, não percebe da poda, só do resto) ou quiçá para a pesca à linha.

Que, feito a mando do ministro Relvas, é o equivalente (com certificado) ao pior dos sketches dos Malucos do Riso. Ou à tirada mais clearasil dos morangos açucarados.

Porque com o Relvas a guiar, já sabemos, é meio caminho para o despachanço….

… ou não.

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