terça-feira, 12 de março de 2013

Fotografias

Quando era miúda, o dia do aniversário era sempre dia de fotografia. Os preparativos começavam depois do almoço. A roupa nova, arrumada em cima da cama, era envergada com cuidado e olhada mil vezes no espelho do guarda fatos. Os cabelos eram penteados e o toque final saía do vaporizador do perfume. No fotógrafo, ensaiavam-se poses mais ou menos risonhas junto ao telefone ou descendo uma escada de um varandim. Por fim, escolhido o melhor adereço, vinha o "olha o passarinho!". Nesse tempo, as revelações das imagens demoravam quatro ou cinco dias, pelo que a ansiedade do resultado final só passava quando víamos o envelope. E lá estavamos, estáticos e hirtos, a preto e branco para a posteridade. Nos outros 364 dias do ano tinhamos; às vezes, a sorte de um encontro com um fotógrafo "à lá minute". Na rua, sem cenários fingidos e com a roupa de todos os dias, olhávamos embevecidos para aquela caixa pequenina e para o pano preto que escondia o artesão e o nosso riso soltava-se. Essas eram as melhores fotografias.
Alguns anos mais tarde, as máquinas fotográficas tornaram-se mais acessíveis e tudo mudou. Mantinha-se a ida ao fotógrafo para as fotos formais, mas a máquina portátil permitiria captar outros momentos, informais e significativos. Parecia, enfim, que iríamos fixar na película tudo aquilo que compunha o nosso mundo sempre que quiséssemos, sem esperar por datas específicas ou mágicos de parar o tempo.  E aqui é que está o engano: nem sempre os momentos significativos e informais foram fixados pela máquina. Por motivos vários, perderam-se recordações que hoje só existem indocumentadas pelo esforço da memória. É pena.
Na próxima explico porque é que esta conversa vem ao caso.

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