quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Viagens sem Passaporte

Quando era garota havia um programa na televisão intitulado " Viagens sem passaporte". Numa altura em que o dinheiro não abundava e uma viagem a Lisboa já era merecedora de preparativos com dois dias de antecedência, esse programa presenteava os telespectadores com a descoberta do mundo, a partir da comodidade do sofá da sala, sem o nervoso inerente ao esquecimento de objetos do quotidiano ou de peças de roupa imprescindíveis. Nem era preciso reservar o tempo das férias.Viajava-se em qualquer altura para toda a parte, e os museus, palácios, catedrais, pontes, antes vislumbrados em fotos estáticas em uma ou outra revista, ficavam ali mesmo à distância do pequeno ecrã, cheios de movimento, de sorrisos, de vida.
Os tempos agora são outros. Viajar tornou-se uma banalidade. Mas não para todos. Ainda existe muita gente que não tem meios nem disponibilidade para viajar. As férias continuam a ser preenchidas com a praia mais próxima ou com pequenos passeios para arejar.
Mas existe um dado novo. As redes sociais. Através delas, viajamos com os amigos e conhecidos e carregamo-nos de fotografias dos mais variados locais. Sem sair do sofá e sem nervosismos. Continuam a ser viagens sem passaporte, apenas sujeitas aos destinos de quem organiza.

sábado, 22 de junho de 2013

Melhor Falado...

Já circula há muito tempo pela net. Dizem ser verdadeiro, verdadeiramente escrito por um aluno. Eu sou pelo nim e comparo-o àquela trupe de palhacinhos de um clube português que costumava estar à frente, cujas acrobacias hilariantes eram o produto de muita sabedoria e treino intensivo, não de uns saltimbancos mal amanhados. O texto aqui vai porque também o acho acrobático e atual. Experimentem lê-lo em voz alta que ainda soa melhor...

REDAXÃO

"O PIPOL E A ESCOLA"

Eu axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é perciso ver q á razões qd um aluno não vai á escola. Primeiros a peçoa n se sente motivada pq axa q a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas. Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto montanhoso? Ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? Ou cuantas estrofes tem um cuadrado? Ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã?
E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem "os Lesiades""s, q é u m livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah.
Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e a malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem abitos de leitura e q a malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras foi q ele h-xoce bué da rapido e só o "garra de lin-chao" é q conceguiu assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver???
O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço de otelaria e a malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um gravetame do camandro. Ah poizé. Tarei a inzajerar?

terça-feira, 28 de maio de 2013

Direito por linhas tortas

Podia começar esta crónica  referindo provérbios, aforismos ou sentenças filosóficas sobre a natureza e fragilidade humanas. Mas não é preciso. A história conta-se em poucas linhas e o que dela se tira dá pano para reflexão e construção das nossas próprias ilações e sentenças.
Ela era jovem, cheia de vida, instruída e bem instalada na vida. Exigente e crítica, não era de aprofundar relacionamentos. Ele era um pobretanas, que dividia a a casa e uma doença hereditária  com a mãe. A expensas de uns padrinhos sem filhos, conseguiu estudar. Obcecou-se pela cultura geral e informação do mundo em particular e a sua mente começou a dar sinais de desequilíbrio.
Em comum tinham a esplanada do final da tarde e parte da roda de conhecidos. Temas variados, piadas soltas, gargalhadas, perguntas com respostas já adivinhadas. Ele sentia-se importante pelo saber. E olhava-a para confirmar o espanto ou desinteresse dela. Às vezes, ela atirava-lhe uma pergunta tola com ar solene e ele encetava uma resposta cheia de explicações e palavreados.
Um dia, o moço escreveu-lhe uma carta. Numa caligrafia alinhada, expôs o seu coração em frases barrocas, cheias de estilo. Dobrou-a como uma daquelas esculturas japonesas em papel e pediu a uma amiga que lha entregasse. Na tarde seguinte, o tema puxado à galhofa era a  utilidade das cartas de amor. A segunda carta correu de mão em mão, oferecida por ela aos amigos. Então ela já te respondeu? Ainda não. Porque não falas com ela? Prefiro assim. E o assim durante algumas semanas.
Diferentes mundos, diferentes caminhos. Ela caminhou em avenidas largas. Ele ficou parado no seu beco sem saída.
Passaram vinte anos. Ele vive sozinho, embora rodeado dos companheiros do lar. Mantém o gosto pelos livros e pelos jornais. Todas as manhãs, agarrado às muletas, que lhe devolveram o andar trôpego, atravessa meio bairro para comprar o jornal.Senta-se na mesma esplanada e vai comentando em monólogo o mundo, com os vizinhos das outras mesas.Ela vive sozinha, amarrada a uma cadeira de rodas, por uma doença que não escolhe nem idade nem dinheiro. Já não tem exigência nem crítica nem futuro. Só o presente. Sem cartas de amor.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Gramática e Semântica

No meio das incongruências políticas com que somos premiados todos os dias, vão também saltando aqui e ali outras incongruências. Gramaticais e semânticas, a bem dizer. Não é que eu entenda muito da natureza destes palavrões, mas do que eu vou aqui falar não há enquadramento económico, desportivo, cultural ou recreativo, pelo que se encaixa aí na perfeição.
Vamos lá: num dia da semana que passou, o Presidente da República, não sei se no ardor do discurso inflamado sobre a austeridade , se no estertor da defesa da mesma, e entalado na péssima dicção que vem ultimamente desenvolvendo, saiu-lhe um "cidadões" para aqui, um "cidadões" para acolá. Como nesse momento da reportagem televisiva estava com umas coisas entre mãos (rás parta a cebola!), o meu cérebro não reagiu de imediato. Fcou, no entanto, uma nódoazita à tona dos líquidos, que foi espalhando e incomodando. À noite, parou tudo, parei tudo. Tinha de ouvir a peça. E lá estava o "ões" da indignidade gramatical. Ó senhor Presidente, que lhe falte letras na sua oralidade, que confunda os "r" com os "g" vá que não vá, pois que não sendo locutor de rádio, a mais não será obrigado. Mas CIDADÕES? CIDADÕES? Santa paciência! Eu que passo um terço do meu dia a martelar na cabeça dos moços (salvo seja!) o singular e  o plural, que risco com quase fúria as desafinações do género e número, ainda tenho de levar com um presidente que maltrata a Língua? Por favor, despalite o bolo-rei dos dentes, recomponha-se, olhe para a sua mestra Maria e fale como deve ser! 
A outra incongruência deu-se ontem. Via Tweeter. Via deputado. Carlos Abreu Amorim, também no ardor do discurso clubístico, ou no estertor do reinado político, desabafou em mensagem eletrónica que quem não é do clube do Porto é Magrebino! Redutor, o futebol: se não és deste mundo azul dos quatro costados, então só podes pertencer à turba acéfala dos rafeiros sem casa nem dono, que ocupam a outra parte do mundo que é magrebino! Dois insultos numa só frase. É obra. E é este ser surreal um DEPUTADO. Claro que ele pode ter a vida que quiser, o clube que quiser,  que tem direito a ter vida para além de deputado. Mas não se pode esquecer de que é uma figura pública e que não pode dizer bacoradas da boca para fora. Ninguém lhe dá o direito de usar nomes com segundos sentidos! Quem são os Magrebinos? Os habitantes do Magreb. Tão só. São pessoas como todas as outras. Usar o seu nome com sentido pejorativo, para desvalorizar outros, para acentuar divisões Norte e Sul, isso é baixo e ridículo. Componha-se, homem de Deus! Fale como deve ser que o seu ordenado de deputado é pago pelos contribuintes deste país, com as mesmas origens que as suas!

sábado, 13 de abril de 2013

Finalmente!

Muito nos queixamos nós do tempo. Se não chove, é porque não chove. Há seca, as barragens estão a meia haste, os produtos agrícolas morrem à mingua, vai ser um ano de fome. Se chove, é porque chove. Está tudo debaixo de água, as barragens já ultrapassaram os limites máximos, os produtos agrícolas morrem com excesso de água, vai ser um ano de fome. Incongruências. Incoerências. O clima está a mudar. Até ele anda nervoso e desorientado. A minha amiga americana, a viver próximo de Londres, diz-me que ainda há lá uns pinguinhos de neve. Mas eu vivo cá! E CÁ, hoje foi um dia daqueles! Finalmente a Primavera (hoje merece maiúscula) veio no seu melhor. Até os "meus" melros andavam por aqui aos pares a passear pelo chão, depois de se terem desunhado a cantar.



segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mais Chuva

Barranco da Nora - Tavira  (fotografia minha)
Chuva, chuva e mais chuva. Parece mentira mas é verdade. Há trinta e tal anos que não tínhamos uma tão grande quantidade de água. Enche barragens mas compromete as culturas ditas de primavera. Sem conta, peso ou medida, o clima está descontrolado. Enervou-se com os desmandos do Homem, feitos contra o único lugar que tem para viver: o planeta Terra.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Boa Páscoa

UNKNOWN MASTER, Flemish. Deposition. 1470s (via FB)

quinta-feira, 28 de março de 2013

Deus da Chuva

Temos na nossa língua várias expressões relacionadas com chuva ou com o ato de chover: quem anda à chuva molha-se, nunca mais chove, isto está a pedir chuva, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal, hoje estou com a morrinha. Tirando a última, que hoje até foi uma sensação pessoal, todas as outras se podem aplicar à situação do nosso país. Meteorológica e politicamente  falando, claro. 
De uns e de outros andamos fartos. 
Ao anterior chefe do Governo foi-lhe dada a oportunidade de se explicar, em direto, na televisão do Estado, como deixou o país chegar àquele estado. Atirou culpas à esquerda e à direita, defendeu-se acusando, mas ia preparado porque "quem anda à chuva molha-se".
Do atual chefe do Governo, os jornais fazem eco da sua impaciência face à demora das altas instâncias em aprovar um orçamento para lá de gravoso. Bolas! "Nunca mais chove", andará ele a espumar pelos corredores do seu palácio de governação. "Olhem que assim ainda me vou embora", ameaça, "Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal". No entretanto, vamos torcendo o nariz ao olhar para a carteira cada vez mais vazia, vamos vociferando ao encalharmos com serviços que não funcionam, seja por falta de pessoal, seja por falta de verba. Ai, ai, que "isto está a pedir chuva". E da grossa!
Do tempo, só resta esperar que a Dona Primavera regresse das férias do ano passado.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Amor e Fraternidade

"São Francisco de Assis renuncia às riquezas terrenas", por Giotto di
Bondone   Basílica de Assis (Itália)
A alegria com que foi acolhida na Praça de S.Pedro a fumata branca depressa deu lugar a uma ansiedade crescente. No final de uma quinta votação, já se tinham abandonado os nomes dos cardeais papáveis, a maioria fora da curia romana, como era desejável. Então veio a surpresa, anunciada em latim mas compreendida por todos, os que enchiam a Praça e os que se colavam às televisões. O mundo católico atento arrepiou-se perante a escolha de um cardeal argentino para suceder a Bento XVI. Pela primeira vez foi eleito um Papa latino-americano. Fora da curia romana, fora da Europa. Como era desejado.Isto pode querer dizer muito. O novo Papa escolheu um nome nunca antes escolhido, Francisco. E isto pode querer dizer tudo. Jesuita e com um nome destes, junta o carácter missionário e evangelizador ao da humildade e amor ao próximo na sua sua raíz mais chegada ao ensinamento de Cristo. Espera-se, assim, um pontificado de renovação e mudança, e de responsabilidade social para com os mais desfavorecidos. "Amor e Fraternidade" foram as palavras chave do discurso de apresentação de Francisco I na varanda da Basílica de S. Pedro. O Vaticano, enquanto Estado, e a Igreja Católica, enquanto instituição religiosa, atravessam momentos difícieis originados por sucessivos escândalos mundanos, desde a pedofilia à finança, que, de algum modo, têm abalado os católicos e aumentado as críticas aos altos responsáveis da hierarquia e que estiveram na base da resignação de Ratzinger. A escolha deste Papa sul-americano, que pelo que se sabe está habituado a arregaçar as mangas e ir à luta,  pode trazer novos contornos à espiritualidade e à fé, à consciência social e ao diálogo entre os Povos, apelando à fraternidade dentro e fora da Igreja e reforçando o amor em Cristo e na sua doutrina. Pode ser ainda o Homem da Igreja que saiba usar com firmeza o anel de Pedro e as sandálias do Pescador.

terça-feira, 12 de março de 2013

Fotografias

Quando era miúda, o dia do aniversário era sempre dia de fotografia. Os preparativos começavam depois do almoço. A roupa nova, arrumada em cima da cama, era envergada com cuidado e olhada mil vezes no espelho do guarda fatos. Os cabelos eram penteados e o toque final saía do vaporizador do perfume. No fotógrafo, ensaiavam-se poses mais ou menos risonhas junto ao telefone ou descendo uma escada de um varandim. Por fim, escolhido o melhor adereço, vinha o "olha o passarinho!". Nesse tempo, as revelações das imagens demoravam quatro ou cinco dias, pelo que a ansiedade do resultado final só passava quando víamos o envelope. E lá estavamos, estáticos e hirtos, a preto e branco para a posteridade. Nos outros 364 dias do ano tinhamos; às vezes, a sorte de um encontro com um fotógrafo "à lá minute". Na rua, sem cenários fingidos e com a roupa de todos os dias, olhávamos embevecidos para aquela caixa pequenina e para o pano preto que escondia o artesão e o nosso riso soltava-se. Essas eram as melhores fotografias.
Alguns anos mais tarde, as máquinas fotográficas tornaram-se mais acessíveis e tudo mudou. Mantinha-se a ida ao fotógrafo para as fotos formais, mas a máquina portátil permitiria captar outros momentos, informais e significativos. Parecia, enfim, que iríamos fixar na película tudo aquilo que compunha o nosso mundo sempre que quiséssemos, sem esperar por datas específicas ou mágicos de parar o tempo.  E aqui é que está o engano: nem sempre os momentos significativos e informais foram fixados pela máquina. Por motivos vários, perderam-se recordações que hoje só existem indocumentadas pelo esforço da memória. É pena.
Na próxima explico porque é que esta conversa vem ao caso.

terça-feira, 5 de março de 2013

Nuvens

Entre gripes e benurons e manifestações e cartazes, fevereiro já lá se foi e março entrou de má cara. Como nós. Andamos todos de trombas. Eu falo por mim. A minha natureza alegre ressente-se com esta mudança de humor, e não é de agora. O último ano foi terrível e deixou marcas. Gostava de voltar à minha antiga forma e faço todos dias um esforço grande, mas tudo pesa, a nitidez das coisas perdeu-se, as sombras e os ecos plasmam desconfianças e descrenças. E hoje foi um daqueles dias em que até o céu  estava a condizer. Raios, que este discurso tende para o depressivo e isso é que não. Preciso de coisas boas. Nada melhor do que uma musiquinha. Vamos lá ver os aviões!



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Este País Não é Para Velhos

Que me perdoem os donos da frase que serve de título a esta fatia mas nunca uma frase foi tão apropiada ao contexto em que vivemos, em que o país está mergulhado. Falta-me a inspiração para a escrita, sobra-me o desencanto, o desespero, a raiva, que não o desânimo.
Descobri este texto no blogue de um senhor ligado à educação e crítico lúcido dos desmandos desta gente que governa sobre números e orçamementos e cujas contas dão em buracos de fazer inveja ao meteorito mais bem intencionado.
Reza o texto do Dr.Paulo Guinote que ser velho no nosso país é uma chatice. Ao que temos lido nos jornais, também no Japão, ou coisa que o valha, também ser velho não é lá grande ideia. Em larga escala, qualquer dia não será boa ideia ser-se velho neste planeta e o melhor será reinventar a história do Jeremy Button. Andamos de trás para a frente em três tempos e as economias mundiais verão sanados os seus problemas de riqueza e ganância. Estamos mal.
Olhemos, então, para o texto:
Os velhos. Os velhos são uma chatice para este governo de jovens liberais com a minha idade ou mais, de permeio com tipos já com currículo de trintões. Isto para não falar nos andropáusicos teóricos da casta que parecem não ter espelhos em causa e sobre os quais vou poupar o sarcasmo, que me correria com extrema facilidade, atendendo a tudo o que se vai ouvindo e sabendo.

Concentremo-nos naqueles que, como um certo idiota, desculpem, imbecil, desculpem de novo, jovem político do PSD que tratou os idosos como sendo uma espécie de peste, insurgindo-se contra o encargo que eles são para o pobre Estado que, assim, fica menos liberto para apoiar os banqueiros não grisalhos na base do Petróleo Olex ou parecido.

Os velhos são chatos porque adoecem, porque usam o SNS, porque gostam de comprar medicamentos comparticipados, porque têm doenças crónicas, porque querem fazer análises ao sangue e ao xixi de 24 horas, porque recebem reforma após 40 anos de trabalho, porque, porque, porque, porque…

E agora há ainda os velhos precoces… aqueles que ainda trabalham e que, aos 55 ou 60 anos, ainda se sentem em condições de receber um salários, que não gostam de os ver cortados só porque o gaspar falhou outra vez as contas estocásticas, e que o ministro Relvas considera instalados e os restantes idiotas alaranjados ou azulados acham que são uns privilegiados porque têm trabalho e não dão lugar aos jovens.

Porque, como se sabe de acordo com a teoria económica do café na esquina ali do Campo Grande, os jovens só poderão sair do desemprego se os velhos desaparecerem dos locais de trabalho e, se possível, sem receberem subsídio de desemprego ou reforma.
Porque, como se sabe, a Economia funciona na base da substituição de trabalhadores nas mesmas funções e não na criação de empregos. Isso são ideias esquerdistas, do tipo-PREC, quiçá rooseveltianas.

Porque, como todos sabemos, em especial os liberais de aviário, os velhos são uma peste, conspiram contra o interesse nacional e devem ser exterminados ou abandonados à sua sorte, a menos que queiram praticar o voluntariado em troca de pão, água e uma enxerga lavada a cada bimestre. A menos que seja um catroga, pois nesse caso deixamo-lo lambuzar-se com um tacho escolhido para compensar o beicinho de não ser gaspar em vez do gaspar. Ou então se for um ulrico ou um salgado e nesse caso espera-se que seja ele a dar-nos(lhes) um tacho para se lambuzarem depois de fazerem tirocínio de secretário de estado rosélino ou ministro de vespa. Ou assessorando, ou consultando ou especializando pelos gabinetes.

Como todos sabemos, os velhos já não são o que eram quando se reformavam aos 65 e morriam logo a seguir, ali de forma estrondosa com a bendita trombose ou o adequado ataque cardíaco fulminante, abençoados que eram. Agora dignam-se viver mais uns anitos, têm esperança de vida, mas o raio é que têm catarro, gota, maleitas daquelas neurológicas e outras ortopédicas, artroses e ateroscleroses. Têm tremeliques e as famílias, mesmo dos proletas, querem cuidados paliativos como se fossem gente rica e pudessem pagar, que isto do Estado Social não é coisa para todos, pois há que pagar os desfalques do Oliveira e Costa e não mugir, ou melhor, há quem munja (o leitinho da teta gorda do Estado em subsídio) e quem muja (porque agora vais despedido e levas meio tostão de mel mal coado).
Portugal está cheio de velhos e este mundo não é para velhos. Este mundo é para jovens relvettes ou para borginhos de proveta, gente empreendedora que saca dinheiros ao Álvaro enquanto janta e que acha que a sociedade está cheia de parasitas, sendo os mais parasitas de todos esses idosos sem vergonha na cara que tanto exigem ao pobre Estado, como se só pensassem no egoísmo que é manter-se vivos.

Porque, como todos sabemos, a população portuguesa está envelhecida.

Não porque a decisão racional das famílias, perante o corte dos rendimentos e apoio à natalidade, seja racionalizar a descendência numa compreensível estratégia neo-maltusiana. Racionalizar só se for nos serviços do Estado.

Não porque o incitamento à emigração pelo pedro & miguel, a dupla sertaneja do momento, leve à redução da população jovem e em idade fértil no país, agravando ainda mais a baixa natalidade.

Claro que o envelhecimento da população é causado, única e exclusivamente, porque o raio dos velhos insistem em viver cada vez mais e em resistirem às doenças que antes – nos bons velhos tempos – os matavam que nem tordos, benzós Deus que Deus nessa altura andava mais atento na ceifa.
E depois fica aquele problema, curioso, digno de meia dúzia de teses bolonhesas de uns filhos d’algo com passeio por universidades amaricanas para verem as salas de leitura e o verdejo dos campus, que é querer, ao mesmo tempo, que as pessoas se reformem mais tarde, para alargar a carreira contributiva, enquanto dão lugar aos mais novos, abdicando do seu vergonhoso privilégio de trabalhar, para combater o desemprego jovem.

A solução para isto passa, claro, por um guião para a juventude saber ser jovem e ir para a ingricultura (a Cristas, coitada, não percebe da poda, só do resto) ou quiçá para a pesca à linha.

Que, feito a mando do ministro Relvas, é o equivalente (com certificado) ao pior dos sketches dos Malucos do Riso. Ou à tirada mais clearasil dos morangos açucarados.

Porque com o Relvas a guiar, já sabemos, é meio caminho para o despachanço….

… ou não.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Olhares

Hoje voltei a ver-te. Barba grande e grisalha, pegada ao cabelo sujo e revolto, a cercar um rosto tisnado e enrugado, de expressão única e parada. Farrapo velho no corpo pequeno e curvado. Nas mãos, uma garrafa de cerveja. Que voltas deste para te encontrares assim, nesta encruzilhada da vida, à esquina duma qualquer rua?
Lembro-me de ti, sorridente e conversador, tirando do mar o sustento para a mulher e filhos. Um dia, numa coincidência estranha, encontrei-te fechado num lugar impensável. Olhámo-nos. Acenaste a cabeça num cumprimento envergonhado e eu fiquei embasbacada por te ver ali, misturado com aqueles que eu pensava serem de outro lugar que não o teu, terem feito opções que não as tuas. Pobrete, mas alegrete. Pobre, mas regateando com a vida aquilo que era teu por direito do trabalho honesto. Alegre, porque dominavas os teus curtos horizontes. Mal refeita da situação, estendi a minha mão num cumprimento de feliz natal. Há quantos anos? 10, 15? Nunca mais te vi, até hoje.
Gostava de saber em que montanha russa viajaste e em que voltas te perdeste e perdeste os teus.
E continuas à esquina, de cerveja na mão e olhar parado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sem segredos

Li algures que o "5 para a Meia Noite" foi eleito o melhor programa da televisão. Concordo, às vezes.
Já o pior programa foi o "Secret Story 3". Aqui concordo plenamente e sempre.
Nunca tinha seguido de perto um realityshow. Uma vez ou outra, dois ou três diretos e nada mais. Ah! e conhecia a história do Zé Maria. No ano passado deu-me para ali e comecei a ver assiduamente esta Casa dos Segredos 3, que agora tem uma inenarrável sequela apelidada de Desafio Final. Não posso dizer "sem comentários" porque trouxe para aqui o assunto, mas é difícil dizer alguma coisa de jeito sobre este programa etiquetado de entretenimento. Tudo junto, concorrentes, linguagem, situações, missões, discussões e palavrões, dava um tratado de sociologia, de fauna e flora, linguística e psicologia comportamental. Este conjunto de pessoas, supostamente simples e anónimas, encarna toda a complexidade do ser humano. Protegem-se uns aos outros numa dinâmica de jogo e em nome dessa dinâmica denunciam-se ao mínimo deslize , à mínima contrariedade. Todos são frontais, honestos, humildes e solidários. Uns assumem que ali estão por dinheiro, outros não se percebe bem pois afirmam que nem precisam daquilo. Nas frequentes discussões dardejam profundidades filosóficas sobre sofrimentos, sacrifícios, solidariedades e amizades, e na mesma linha se contradizem e acusam. Formam pares amorosos, uns para "dar canal", outros porque descobrem que encontraram a alma gémea. Choram abundantemente com as traições e falsidades, mas não hesitam nas nomeações para as saídas. No fim juram a pés juntos que vão ficar amigos para toda a vida, e quando algum sai, despedem-se como se o visado fosse para o outro mundo.
Como nunca tinha visto qualquer programa destes por inteiro, não fazia a mínima. É uma feira de vaidades e insanidades. É caso para dizer: todos diferentes, mas todos tão iguais!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Faturar a fatura

Hoje a crónica não é minha. Um velho amigo escreveu no FB e eu trouxe para aqui:

Uma dessas novas registadoras que comunica logo com as finanças custa aproximadamente 1500 €.Um pequeno comércio pode facturar num dia aproximadamente 50 €.Logo o dono da loja trabalha mais de 1 mês só para pagar a dita máquina(para cobrir as despesas do que vende).As registadoras antigas já vêm com porta série(porta de comunicação) mas é impossivel (???) serem adaptadas...Por favor esclareçam:O Carnaval de 2013 chega mais cedo que nos outros anos?
Sugestão para ajudarmos o pequeno comércio: Quando não estiver ninguém na loja,dizemos que não queremos factura nem talão.
Além do mais,estas leis vão conseguir algo nunca dantes visto:
- Contrabando Interno !!!
- Assaltos (verdadeiros ou forjados) a carrinhas de distribuição.
Preparem-se, rapazes dos recintos desportivos: chocolates?, pipocas?, amendoins?  - Ora saia a fatura!!!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fará sentido?

Do discurso do Presidente da República dizia-se que era o mais esperado. Ainda estou para perceber o que teria ele de tão iluminado para dizer, depois de ter perdido todas as oportunidades de se chegar à frente e dar uma arrumadela nas canastrices que andam para aí a fazer com a gente. Mas enfim.... Uma das frases ditas pelo ilustre acentuava monocordicamente que "era preciso travar a espiral recessiva". Percebem porque é que eu não percebi? Então ele ainda não deu conta da espiral recessiva? E quem é que promulogou o OE, esse desgraçado rol de facadas nas nossas vidas?
Sempre estou para ver o que vai o PR escrever agora no facebook.

Meio Poema

Quatro anos... Nem me dei conta.
Tantos dias, tantos meses. Tanta coisa.
Lembranças, esquecimentos, partidas, chegadas.
Fervilha a cabeça de palavras que ficaram para trás.
Nem sei se é um poema. É escrita. É a escrita.