Acabei ainda há pouco de ver o filme " As Serviçais". Tarde de repouso, lembrei-me de uma modernice cá de casa e fui revirar a caixa à procura de qualquer coisa. Dei com o filme.
Tocou-me muito, este filme, por várias razões: a perspetiva do narrador, o contexto político e social, as relações humanas.Normalmente, a História escreve-se do ponto de vista de quem domina, mas as histórias dessa História têm outra cor e movimento quando vistos pelos olhos de quem é dominado. Aqui fere muito o separatismo racial da América dos anos 60. Não só pelos grandes traços - acessibilidades, educação, trabalho - mas, e sobretudo, pelas pequenas coisas do dia a dia, como por exemplo o uso da casa de banho pelas criadas na casa dos patrões ou o amor incondicional das criadas de bebés brancos que raramente tinha retorno em anos posteriores. Comovente, o medo de falar, de contar cada história individual, mas que se transforma no motor da luta pelos direitos cívicos, o direito de ser tratado como gente.
A América, senhora do Mundo, não consegue apagar do seu passado, e até mesmo do seu presente, esta contradição e ironia: primeira defensora dos direitos dos Homens através de uma Constituição única, ela ainda pensa a preto e branco.