sexta-feira, 29 de março de 2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

Deus da Chuva

Temos na nossa língua várias expressões relacionadas com chuva ou com o ato de chover: quem anda à chuva molha-se, nunca mais chove, isto está a pedir chuva, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal, hoje estou com a morrinha. Tirando a última, que hoje até foi uma sensação pessoal, todas as outras se podem aplicar à situação do nosso país. Meteorológica e politicamente  falando, claro. 
De uns e de outros andamos fartos. 
Ao anterior chefe do Governo foi-lhe dada a oportunidade de se explicar, em direto, na televisão do Estado, como deixou o país chegar àquele estado. Atirou culpas à esquerda e à direita, defendeu-se acusando, mas ia preparado porque "quem anda à chuva molha-se".
Do atual chefe do Governo, os jornais fazem eco da sua impaciência face à demora das altas instâncias em aprovar um orçamento para lá de gravoso. Bolas! "Nunca mais chove", andará ele a espumar pelos corredores do seu palácio de governação. "Olhem que assim ainda me vou embora", ameaça, "Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal". No entretanto, vamos torcendo o nariz ao olhar para a carteira cada vez mais vazia, vamos vociferando ao encalharmos com serviços que não funcionam, seja por falta de pessoal, seja por falta de verba. Ai, ai, que "isto está a pedir chuva". E da grossa!
Do tempo, só resta esperar que a Dona Primavera regresse das férias do ano passado.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Amor e Fraternidade

"São Francisco de Assis renuncia às riquezas terrenas", por Giotto di
Bondone   Basílica de Assis (Itália)
A alegria com que foi acolhida na Praça de S.Pedro a fumata branca depressa deu lugar a uma ansiedade crescente. No final de uma quinta votação, já se tinham abandonado os nomes dos cardeais papáveis, a maioria fora da curia romana, como era desejável. Então veio a surpresa, anunciada em latim mas compreendida por todos, os que enchiam a Praça e os que se colavam às televisões. O mundo católico atento arrepiou-se perante a escolha de um cardeal argentino para suceder a Bento XVI. Pela primeira vez foi eleito um Papa latino-americano. Fora da curia romana, fora da Europa. Como era desejado.Isto pode querer dizer muito. O novo Papa escolheu um nome nunca antes escolhido, Francisco. E isto pode querer dizer tudo. Jesuita e com um nome destes, junta o carácter missionário e evangelizador ao da humildade e amor ao próximo na sua sua raíz mais chegada ao ensinamento de Cristo. Espera-se, assim, um pontificado de renovação e mudança, e de responsabilidade social para com os mais desfavorecidos. "Amor e Fraternidade" foram as palavras chave do discurso de apresentação de Francisco I na varanda da Basílica de S. Pedro. O Vaticano, enquanto Estado, e a Igreja Católica, enquanto instituição religiosa, atravessam momentos difícieis originados por sucessivos escândalos mundanos, desde a pedofilia à finança, que, de algum modo, têm abalado os católicos e aumentado as críticas aos altos responsáveis da hierarquia e que estiveram na base da resignação de Ratzinger. A escolha deste Papa sul-americano, que pelo que se sabe está habituado a arregaçar as mangas e ir à luta,  pode trazer novos contornos à espiritualidade e à fé, à consciência social e ao diálogo entre os Povos, apelando à fraternidade dentro e fora da Igreja e reforçando o amor em Cristo e na sua doutrina. Pode ser ainda o Homem da Igreja que saiba usar com firmeza o anel de Pedro e as sandálias do Pescador.

terça-feira, 12 de março de 2013

Fotografias

Quando era miúda, o dia do aniversário era sempre dia de fotografia. Os preparativos começavam depois do almoço. A roupa nova, arrumada em cima da cama, era envergada com cuidado e olhada mil vezes no espelho do guarda fatos. Os cabelos eram penteados e o toque final saía do vaporizador do perfume. No fotógrafo, ensaiavam-se poses mais ou menos risonhas junto ao telefone ou descendo uma escada de um varandim. Por fim, escolhido o melhor adereço, vinha o "olha o passarinho!". Nesse tempo, as revelações das imagens demoravam quatro ou cinco dias, pelo que a ansiedade do resultado final só passava quando víamos o envelope. E lá estavamos, estáticos e hirtos, a preto e branco para a posteridade. Nos outros 364 dias do ano tinhamos; às vezes, a sorte de um encontro com um fotógrafo "à lá minute". Na rua, sem cenários fingidos e com a roupa de todos os dias, olhávamos embevecidos para aquela caixa pequenina e para o pano preto que escondia o artesão e o nosso riso soltava-se. Essas eram as melhores fotografias.
Alguns anos mais tarde, as máquinas fotográficas tornaram-se mais acessíveis e tudo mudou. Mantinha-se a ida ao fotógrafo para as fotos formais, mas a máquina portátil permitiria captar outros momentos, informais e significativos. Parecia, enfim, que iríamos fixar na película tudo aquilo que compunha o nosso mundo sempre que quiséssemos, sem esperar por datas específicas ou mágicos de parar o tempo.  E aqui é que está o engano: nem sempre os momentos significativos e informais foram fixados pela máquina. Por motivos vários, perderam-se recordações que hoje só existem indocumentadas pelo esforço da memória. É pena.
Na próxima explico porque é que esta conversa vem ao caso.

terça-feira, 5 de março de 2013

Nuvens

Entre gripes e benurons e manifestações e cartazes, fevereiro já lá se foi e março entrou de má cara. Como nós. Andamos todos de trombas. Eu falo por mim. A minha natureza alegre ressente-se com esta mudança de humor, e não é de agora. O último ano foi terrível e deixou marcas. Gostava de voltar à minha antiga forma e faço todos dias um esforço grande, mas tudo pesa, a nitidez das coisas perdeu-se, as sombras e os ecos plasmam desconfianças e descrenças. E hoje foi um daqueles dias em que até o céu  estava a condizer. Raios, que este discurso tende para o depressivo e isso é que não. Preciso de coisas boas. Nada melhor do que uma musiquinha. Vamos lá ver os aviões!