quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Pré - Qualquer Coisa

  Nobel da Paz: quem escolhe e como funciona eleição do vencedor, que será  anunciado nesta sexta

 

Andam os grandes países deste mundo em grande azáfama para encontrarem um denominador comum que permita acabar com a guerra na Ucrânia. Ora o grande promotor desta azáfama é o incontornável presidente dos Estados Unidos.

Ávido de protagonismo, Trump desenvolveu, desde que tomou posse, estranhos hábitos de lidar com a economia mundial, avançando com taxas e tarifas exorbitantes que logo de imediato reduz, possivelmente aconselhado pelo contabilista da Casa Branca. Posto que angariou fama de aventureiro de visão única e antes que os seus eleitores se sentassem a fazer as contas que importam, Donald lança-se na política externa com toda a pujança, metendo-se em tudo quanto é conflito armado instalado ou por instalar. Meteu o homem na cabeça que tem o perfil próprio e adequado para ganhar o Prémio Nobel da Paz. Nem mais!

A Europa da União e fora dela anda num rebuliço, os líderes desdobram-se em reuniões e entrevistas  televisivas, os telefonemas e mensagens surgem como  tsunamis. Donald Trump faz afirmações cáusticas de manhã para de tarde dizer tudo e o seu contrário.

Estamos em fase de pré - qualquer coisa, que ainda não se descortinou muito bem: pré - Nobel? pré - paz na Ucrânia? 

Concluindo num jeito bem português - nem o pai morre nem a gente almoça.

Ah! uma palavrinha para o sr. Putin - palavras poucas, orelhas moucas. E ameaças, daquelas assustadoras com nuclear na mesma frase.

Paragem

 Quase dois anos sem dar sinal de vida. Acontece. Uma pessoa mergulha no imediatismo das redes sociais e esquece-se de que tem um espaço sólido, firme e duradouro. Mas mais vale tarde do que nunca. Regressemos, pois, às crónicas, aos apontamentos curtos, para não cansar.

Nestes dois anos, observamos a continuidade da guerra da Ucrânia, a ofensiva desproporcionada à Faixa de Gaza, a eleição de Donald Trump e a nova composição da União Europeia, onde um português é a segunda figura mais importante.

Por cá, assistimos à destronização do Partido Socialista e ao fim da alternância partidária característica primeira da nossa democracia. Assistimos, também, ao escalar exuberante do partido de grande Direita (não sei se extrema-direita será o mais acertado) que tem levado a cabo desinformação e mais desinformação, trazendo para o palco do debate a imigração e mais imigração, a reforma da constituição e do sistema penal.

As televisões também não têm ajudado nada, servindo-se de um batalhão de comentadores, todos com uma agenda bem definida.

Portanto, continuamos pequeninos e rabinos. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

A História de Portugal Reinventada

 Encalhei com este texto por aí. 

Com a crise política que se instalou ontem no país, olhemos para o passado e avaliemos tudo o que nos impingiram nos manuais. 

Valha-nos o nosso sorriso!

Tudo começou com um tal Henriques que não se dava bem com a mãe e acabou por se vingar na pandilha de mauritanos que vivia do outro lado do Tejo. Para piorar ainda mais as coisas, decidiu casar com uma espanhola qualquer e não teve muito tempo para lhe desfrutar do salero porque a tipa apanhou uma camada de peste negra e morreu.
  Pouco tempo depois, o fulano, que por acaso era rei, bateu também as botas e foi desta para melhor. Para a coisa não ficar completamente entregue à bicharada, apareceu um tal João que, ajudado por um amigo de longa data que era afoito para a porrada, conseguiu pôr os espanhóis a enformar pão e ainda arranjou uns trocos para comprar uns barcos ao filho que era dado aos desportos náuticos. De tal maneira que decidiu pôr os barcos a render e inaugurou o primeiro cruzeiro marítimo entre Lisboa e o Japão com escalas no Funchal, Salvador, Luanda, Maputo, Ormuz, Calecute, Malaca, Timor e Macau .
  Quando a coisa deu para o torto, ficou nas lonas só com um pacote de pimenta para recordação e resolveu ir afogar as mágoas, provocando a malta de Alcácer-Quibir para uma cena de estalo. Felizmente, tinha um primo, o Filipe, que não se importou de tomar conta do estaminé até chegar outro João que enriqueceu com o pilim que uma tia lhe mandava do Brasil e acabou por gastar tudo em conventos e aquedutos. Com conventos a mais e dinheiro menos, as coisas lá se iam aguentando até começar tudo a abanar numa manhã de Novembro. Muita coisa se partiu. Mas sem gravidade porque, passado pouco tempo, já estava tudo arranjado outra vez, graças a um mânfio chamado Sebastião que tinha jeito para o bricolage e não era mau tipo apesar das perucas um bocado amaricadas.
  Foi por essa altura que o Napoleão bateu à porta a perguntar se o Pedro podia vir brincar e o irmão mais novo, o Miguel, teve uma crise de ciúmes e tratou de armar confusão que só acabou quando levou um valente puxão de orelhas do mano que já ia a caminho do Brasil para tratar de uns negócios. A malta começou a votar mas as coisas não melhoraram grande coisa e foi por isso que um Carlos anafado levou um tiro nos coiratos quando passeava de carroça pelo Terreiro do Paço. O pessoal assustou-se com o barulho e escondeu-se num buraco na Flandres onde continuaram a ouvir tiros mas apontados a eles e disparados por alemães. Ao intervalo, já perdiam por muitos mas o desafio não chegou ao fim porque uma tipa vestida de branco apareceu a flutuar por cima de uma azinheira e três pastores deram primeiro em doidos, depois em mortos e mais tarde em beatos. Se não fosse por um velhote das Beiras, a confusão tinha continuado mas, felizmente, não continuou e Angola continuava a ser nossa mesmo que andassem para aí a espalhar boatos. Comunistas dum camandro! Tanto insistiram que o velhote se mandou do cadeirão abaixo e houve rebaldaria tamanha que foi preciso pôr um chaimite e um molho de cravos em cima do assunto. Depois parece que houve um Mário qualquer que assinou um papel que nos pôs na Europa e ainda teve tempo para transformar uma lixeira numa exposição mundial e mamar duas secas da Grécia na final.

 E o Cavaco e o Sócrates?

 O Cavaco foi com o Pai Natal e o Sócrates e o palhaço no combóio ao circo.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Tempos Difíceis

 Desde há dois anos que andamos em sobressalto. 

Primeiro foi a pandemia que virou a nossa do avesso. E, apesar dos arco-íris do "Vai ficar tudo bem", a verdade é que as nossas rotinas e hábitos foram configurados para um antes de e um depois de. 

O início de 2022 trouxe alguma acalmia. Mas em fevereiro chegou a guerra. No tempo de vida da Europa unida, nunca tinha havido uma guerra tão chegada às suas fronteiras externas. 

E a nossa vida tornou a guinar. Instalou-se a crise energética. Dispararam os preços de tudo e de mais alguma coisa. Para compor o cenário catastrófico, ronda a ameaça da agudização do conflito com o recurso ao armamento nuclear.

Ora bolas! A década de 20 deste século ainda criança começou bem e ... não se recomenda.

Uma guerra não contempla vencedores ou vencidos em termos de sofrimento, dor e perda. Os mortos civis têm pai, mãe e filhos, e os mortos militares também. Qualquer que seja a nossa perspetiva ou opinião sobre as causas, fundamentos e argumentos dos interventores, não podemos nem devemos perder de vista que em ambos os lados há tragédias.

Erich Marie Remarque plasmou no livro "A Oeste Nada de Novo" o desencanto dos jovens recrutas imbuídos de patriotismo perante a realidade da frente de batalha.

Aqui deixo a leitura do início da obra.


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

As Redes e a Comunicação

 Nos últimos trinta anos, a necessidade de ampliar a comunicação entre as pessoas tornou fértil o terreno das redes sociais.

E é no subsolo deste conceito que entram em cena as minhas raízes familiares, formatadas no mar, e nas ditas. Tornámo-nos cardumes vagueando pelos mares intercontinentais, explorando as redes, num entra e sai para quebrar a ociosidade.

No início, a rede era pequena. Dominava a pesca à linha ou ao corrido nos mails que nos inundavam a caixa com carradas de powerpoints e fotografias de tudo e mais alguma coisa.

Quase em simultâneo encetámos a descoberta do caminho digital para as mensagens de telemóvel, com figurinhas engendradas nos símbolos do teclado e textos de correntes morais que incitavam à partilha.

Eis senão quando aparece a primeira rede verdadeiramente social, o Hi5. Foi assim uma espécie de arte da xávega, limitada ao tamanho da rede, à profundidade e às ferramentas. O cardume arrumava-se por potências de 5, num esquema espiral, onde o nome contava pouco numa competição com o avatar mais apelativo e destravado.

Já o século tinha deixado a idade da lactância, apareceu o Facebook. A rede era de malha larga e o cardume desenvolveu uma variante da palavra amizade. A fotografia passou a ser obrigatória para se reconhecerem os amigos e as amigas. Mesmo que não se falem na rua ou no bairro, nesta rede todos partilham a retenida e o cerco cresce à conta das sugestões do algoritmo.

Já o oceano da comunicação se começava a compor de cardumes variados, alguns dos quais desconhecidos, apareceu o Twitter, uma rede mais larga e robusta para cardumes mais sofisticados e opinativos. Juntou peixes pequenos com peixes grandes. A hierarquia da cadeia alimentar ditou o elitismo de uns e a exacerbação no discurso de outros. Instalou-se um progressivo caos nas espécies.

O Instagram forneceu aos cardumes o espelho para se mirarem. Desde as mais rotineiras atividades como comer ou dormir às mais esquisitas ou mirabolantes aventuras, o cardume deixou-se apanhar pelos cliques das redes de emalhar. muito finas e transparentes, para dar a conhecer o seu modo de vida.

Os cardumes mais aventureiros e apreciadores de iscos elaborados encontraram no Tinder a rede apropriada para a continuação da espécie. A comunicação entrou no campo da relação íntima onde só importa o que é visível aos olhos. Valorizou-se o brilho da escama, o vermelho da guelra, a cor da barbatana, seja peitoral ou caudal.

Atualmente, e fazendo jus às preocupações com o meio ambiente e aos gritos de "Salvem o Planeta!", proclamou-se a biodiversidade e a rede afrouxou os seus nós, flexibilizou a malha e espraiou-se para as margens secas e arborizadas, permitindo a miragem da fusão do meio aquático com o terrestre. É a época da rede Mastodont. Libertária, sem bóias nem chumbos, oferece ao cardume a escolha de navegar ao sabor da maré e do vento. 

Certamente outras se redes se seguirão, a menos que os cardumes desistam de comunicar e se enfiem em cavernas silenciosas.

quarta-feira, 2 de março de 2022

Em Suspenso

 


 Nestes últimos dias, andamos em bicos de pés. Não porque queiramos ser silenciosos mas porque estamos em suspensão.

Dois anos de pandemia, entre confinamentos, estados de emergência, ondas de grandes números e abrandamentos, orientaram os nossos passos, as nossas profissões, as nossas vidas. Ficámos suspensos do alívio das restrições, da inevitabilidade de apanharmos o vírus e da dúvida do 'será que acabou?'

Nesta maré de perspetivas, eis que o mundo se confronta com a insanidade de um líder político. Conflitos antigos desaguaram numa invasão de território, de fuga das populações, de convergência de atitudes das nações.

Vladimyr Putin, o todo poderoso russo, diz que a Ucrânia não é um país, não tem história e que só existe porque é um produto russo. Lesinsky, o presidente ucraniano eleito democraticamente pelos seus conterrâneos, reivindica a liberdade de ser um país democrata e pensar pela sua cabeça. 

Começou a lavra de um insano político e a defesa da colheita  de um jovem chegado à política há pouco tempo mas carregado de vontade própria.

A incursão planeada para durar 3, 4 dias, 5 no máximo, encontrou uma resistência popular e uma ajuda europeia nunca vistas.

Estamos em suspenso. Para dar um fim à guerra, o insano russo carregará no botão nuclear? Passaremos de espectadores ansiosos a vítimas sem esperança?

 


 



domingo, 17 de outubro de 2021

O Poder da Palavra

 

 Você fala sozinho? Especialistas garantem que o hábito é normal e faz bem à  saúde

 

É incrível o poder da palavra.
A Palavra é o que nos distingue do resto da criação divina. Pela palavra comunicamos.
Existem três categorias de palavras: as que se pensam, as que se dizem e as que se calam; e dentro destas existem outras variedades. As palavras são como as árvores. Ramificam-se.
Como diz o poeta, há palavras que nos beijam como se tivessem boca.... São palavras de simpatia, amizade, compreensão, carinho, paixão, amor. Precisamos delas para nos sentirmos vivos, para perspetivarmos o mundo, para nos posicionarmos na vida, para estarmos bem com os outros e connosco próprios.
Há palavras que gritam. Cada pensamento, som ou gesto é raiva e ódio. Não precisamos delas pois conflituam-nos de tal maneira que baralham a lucidez e o discernimento.
Também há as palavras inúteis, não porque a inutilidade resida na palavra, mas porque não são necessárias para os momentos. A extrema alegria ou a morte tornam-nas inúteis.
Inúteis são, também, as que tentamos dizer a alguém que cala as palavras. Quem cala palavras não gera comunicação. Produz reticências, silêncios , dúvidas.
Por fim há as palavras mal-entendidas. Podem-se pensar, dizer ou calar mas não cumprem a missão de comunicar. Partem do seu destino com uma intenção mas chegam irreconhecíveis.
São tão perigosas como incontroláveis. Perigosas porque distorcem a realidade e arruínam relações. Incontroláveis porque quando partem de nós carregam o nosso sentir, levam instruções expressas, mas confundem-se e transmutam-se, devido a factores externos.
Infelizmente, parece ser esta última variedade a que mais existe por aí. Utilizamos uma amálgama de palavras, das várias categorias e variedades e não nos damos conta da importância da escolha. Os factores externos somos nós próprios. Uma atitude impensada, um gesto deslocado e toda a palavra que de nós sai fica mirrada, seca, espalhada no deserto da incompreensão.
O que nos distingue do resto da criação divina torna-nos, às vezes, infelizes.